Cesar Junker
“Esperança é o que fazemos enquanto esperamos”, disse o Pr. Caio Batista. Em dias em que as notícias não são boas, podemos aprender com o profeta Habacuque sobre como cultivar a esperança. O livro é uma conversa entre o profeta e seu Deus. Há o registro de dois diálogos, encerrando com uma canção de adoração revelando que todas as perguntas foram respondidas e a confiança de Habacuque em Deus foi renovada.
Assim começa seu livro: “Advertência revelada ao profeta Habacuque. Até quando, Senhor, clamarei por socorro, sem que tu ouças? Até quando gritarei a ti: “Violência!” sem que tragas salvação? Por que me fazes ver a injustiça, e contemplar a maldade? A destruição e a violência estão diante de mim; há luta e conflito por todo lado. Por isso a lei se enfraquece, e a justiça nunca prevalece. Os ímpios prejudicam os justos, e assim a justiça é pervertida” (Hc 1.1-4).
Habacuque nos ensina a lamentar, algo fundamental para uma espiritualidade viva e honesta. Não temos muitas informações pessoais sobre ele, exceto que formulava perguntas e obtinha respostas. Era uma pessoa que não estava conseguindo conciliar sua fé num Deus justo e bom com os fatos da vida como ele os via. Ele carregava muitos “por quês?”, à semelhança de perguntas que fazemos hoje, como: “Por que Deus, sendo justo, bom e todo-poderoso, não põe fim a tantos males no mundo?”.
O livro do profeta Habacuque é fascinante. A maioria dos profetas são diretos e até agressivos ao apresentar os oráculos divinos, ao pregar Sua Palavra e, chamar o povo ao arrependimento. Mas diferente no tom, Habacuque falao que queremos dizer para Deus! Nos identificamos com ele quando verbaliza seu espantodiante da Soberania do Senhor (totalmente outro), mostrando sua impotência diante das circunstâncias e, revelando suas tentativas confusas de encontrar sentido nas coisas. Ele lamentou, deu voz à sua dor, tomou coragem para desabafar com Deus. Habacuque traz honestidade e robustez à nossa fé, pois, é impossível sermos íntimos de Deus se não formos honestos com Ele e, é justamente aqui que entendemos o lugar do lamento na vida do povo de Deus.
O sofrimento é realidade humana universal e parte integrante da vida – ser humano é sofrer. Ninguém consegue isenção! Por isso, lamenta quem assume e abraça a sua finitude. Lamentar é um desabafar honesto Àquele que nos conhece por inteiro e pode todas as coisas. Deus é aberto e atento aos nossos desabafos. Sendo verdadeiros, não há nada que não possamos falar a Deus. O exercício espiritual da lamentação é um remédio contra a hipocrisia e o cinismo espiritual. Ela nos torna mais humildes, mais humanos e simpáticos às feridas das pessoas!
O lamento bíblico olha para a vida humana diante de um Deus santo, apontando para nossa finitude, nossa natureza pecaminosa, nossa necessidade de redenção e nossa confiança na comunhão com Deus através de Cristo. O cristão pode enxergar através da escuridão, crendo neste ensino do Apóstolo Pedro: “Lancem sobre Ele toda a sua ansiedade, porque Ele tem cuidado de vocês” (1 Pedro 5.7). Não há motivo pelo qual lamentar que Cristo já não tenha experimentado e passado em nosso lugar, e vencido. Jesus é a resposta para todas as perguntas e a solução para todas as nossas necessidades.
Assim, todas as vezes que lamentamos, podemos imaginar Deus apontando para a cruz e dizendo: “Está consumado”! “Eu fiz tudo o que tinha que ser feito”! A resposta para as perguntas do nosso lamento é Cristo! A solução para as nossas necessidades é Cristo! “O Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo” (Apocalipse 13.8). Porque antes de experimentarmos toda e qualquer dor, Deus já tinha o remédio e haverá um dia em que “A habitação de Deus estará com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já haverá passado”. (Apocalipse 21.3-4).
Estamos adentrando o segundo ano de uma pandemia que tem provocado sofrimentos individuais, familiares e sociais. Ela tem gerado medos, inseguranças, mortes, instabilidade política, econômica, social e trazido às pessoas conflitos internos e externos. Todas as perdas vivenciadas nesse tempo geram cansaço, angústia, pânico e inconformidade.
Apoiados, então, pelos salmos de lamentação aprendemos que súplicas e louvor andam juntos. É tempo de aprendermos a lamentar!
Emily Dickinson sugeriu que: “o sofrimento – se esvai – no louvor”. Por isso, agora é tempo de começarmos a exercitar a prática do lamento como um foco renovado para a esperança. Quando Habacuque olhava para as circunstâncias ficava perplexo (1.3), mas quando esperava em Deus e o ouvia, cantava (3.18-19).
Da crise, Habacuque fez tributo de louvor a Deus!
Cesar Junker é pastor da IPI Lagoa Dourada em Londrina/PR