Isaías 58.1-12
José Roberto Cristofani
Domingo de Ramos 2020
Introdução
Luz
Cura
Direção
Proteção
Resposta
Jejum é um exercício espiritual de
extrema importância em tempos de
calamidade. Já estamos em um movi-
mento de oração. Precisamos, agora,
aliar o jejum às nossas orações, pois
a gravidade do momento reclama de
nós “Promulgar um santo jejum” (Joel
1.14).
A pandemia global do novo coronavírus alcançou nosso país e está causando muito sofrimento e aflição no presente e causará muitos outros males depois que a crise passar. Tanto no presente como neste futuro bem próximo, temos grandes desafios como povo de Deus e devemos continuar nos fortalecendo mutuamente para enfrentarmos a pandemia com o auxílio e proteção do Senhor.
Além do distanciamento social, da impossibilidade da comunhão física da comunidade de fé, do aumento de infectados, da multiplicação dos doentes, da assombrosa morte, que tem ceifado a vida de muitos, e ainda o fará, muito além disso, a situação econômica se agravará, os níveis de desemprego aumentará dramaticamente e as dificuldades de subsistência se avolumará.
Parafraseando o Apóstolo Paulo devemos nos perguntar: O que faremos pois, diante dessas coisas? Assistiremos impassíveis ao sofrimento e aflição do povo? Ou tomaremos o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus e enfrenta- remos com determinação a presente situ- ação?
Tempos difíceis reclamam, sempre, o posicionamento firme e determinado das filhas e dos filhos do Altíssimo. Por isso, a promulgação de um “Jejum de Mãos Estendidas” se faz urgente e necessário.
O que é, afinal, um Jejum de Mãos
Estendidas?
Com base em Isaías 58.1-12, clássico texto sobre o verdadeiro significado do jejum e sua prática, é possível propor o seguinte quadro de reflexão:
1. O jejum deve ser proclamado por um enviado do Senhor (vv.1-2)
2. O jejum deve ser compreendido no seu significado básico (vv. 3 e 5)
3. O jejum deve
ser entendido em
seu significado
estendido (vv.
6-7)
4. O jejum deve ser desejado pelos seus resultados (vv. 8 a 12)
1. O jejum deve ser proclamado por
um enviado do Senhor (vv.1-2)
“Grite alto, com todas as suas forças! Grite alto, como o som da trombeta! Fale ao meu povo, Israel, sobre
sua rebeldia e seus pecados! Apesar disso, agem como se fossem piedosos! Vêm ao templo todos os dias e
parecem ter prazer em aprender a meu respeito. Agem como nação justa que jamais abandonaria as leis de
seu Deus. Pedem que eu atue em favor deles e fingem querer estar perto de mim. Isaías 58.1,2
Enviado pelo Senhor, Deus de Israel, o profeta Isaías,
como líder profético da nação, é instado a clamar ao
povo nos seguintes termos: “Grite alto, com todas as suas
forças! Grite alto, como o som da trombeta! Fale ao meu
povo, Israel, sobre sua rebeldia e seus pecados!” (v.1). O
mensageiro do Senhor é enviado para dentro de uma
situação de sofrimento por causa pecado, neste caso,
que está causando uma separação pessoal no tocante a
Deus e um distanciamento social em relação ao próximo.
Assim, a liderança profética de Isaías é uma voz contundente a clamar ao povo para que corrija uma prática bem estabelecida da espiritualidade do povo de Deus: o jejum. Todo o trecho de Isaías 58.1-12 é uma d`idaquê, um ensino sobre o verdadeiro e profundo significado da prática do jejum em tempos de calamidade nacional.
Nas palavras de Calvino,
Quando aparecem os julgamentos da ira do Senhor (como
pestilência, guerra e fome) – é uma ordenança sagrada e
salutar para todas as épocas, que os pastores instem o
povo ao jejum público e às orações extraordinárias. (Piper,
A hunger for God: desiring God through fasting and
prayer, p.187, grifos meus)
Podemos afirmar, claramente, o papel de anunciador profético dos Pastores, que devem, em tempos de pandemia e sofrimento, conclamar o povo de Deus, com grande vigor e autoridade, a um período de jejum. Para usar as palavras bíblicas, eles devem “Promulgar um santo jejum” (Joel 1.14).
Nosso Senhor vê o jejum com naturalidade e também incentiva seus seguidores a jejuar, mas os adverte:
Quando jejuarem, não façam como os hipócritas, que se esforçam para parecer tristes e desarrumados a fim de que as pessoas percebam que estão jejuando. Eu lhes digo a verdade: eles não receberão outra recompensa além dessa. Mas, quando jejuarem, penteiem o cabelo e lavem o rosto. Desse modo, ninguém notará que estão jejuando, exceto seu Pai, que sabe o que vocês fazem em segredo. E seu Pai, que observa em segredo, os recompensará. (Mateus 6.16-18)
O Mestre, quando questionado sobre o porque não
proclamava um jejum entre seus discípulos, ele respon-
de:
Por acaso os convidados de um casamento jejuam enquan- to festejam com o noivo? Um dia, porém, o noivo lhes será tirado, e então jejuarão. (Lucas 5.34-35)
2. O jejum deve ser compreendido
no seu significado básico (vv. 3 e 5)
Dizem: ‘Jejuamos diante de ti! Por que não prestas atenção? Nós nos humilhamos com severidade, e tu nem
reparas!’. “Vou lhes dizer por quê”, eu respondo. “É porque jejuam para satisfazer a si mesmos. Enquanto
isso, oprimem seus empregados. De que adianta jejuar, se continuam a brigar e discutir? Com esse tipo de
jejum, não ouvirei suas orações. Vocês se humilham ao cumprir os rituais: curvam a cabeça, como junco ao
vento, vestem-se de pano de saco e cobrem-se de cinzas. É isso que chamam de jejum? Acreditam mesmo
que agradará o Senhor? Isaías 58.3-5
Isaías faz o povo ver, primeiramente, o significado básico do jejum, que é a mortificação do corpo e a dependência de Deus nesse período de fraqueza corporal causada pela abstinência de alimento. E esse significado os seus ouvintes parecem saber muito bem, pois: “Dizem: ‘Jejuamos diante de ti! Por que não prestas atenção? Nós nos humilhamos [afligimos] com severidade, e tu nem reparas!’” (v.3). É uma queixa do povo contra Deus. E eles fazem o jejum como manda o figurino: “Vocês se humilham ao cumprir os rituais: curvam a cabeça, como junco ao vento, vestem-se de pano de saco e cobrem-se de cinzas.” (v.5). Mas isso é só casca e verniz para o vazio dos corações.
Contudo, há uma segunda camada de significado do je-
jum que não é capturado pelo povo de Deus. O profeta
aprofunda a questão ao responder ao povo, em nome
do Senhor, com as seguintes palavras:
“Vou lhes dizer por quê: – É porque jejuam para satisfazer
a si mesmos.” (v.3). O mensageiro do Senhor identifica,
de forma precisa, o problema que impede Deus de
aceitar o jejum dos ouvintes, qual seja, eles jejuam em
causa própria.
E o que é jejuar em causa própria? O final do verso 3 e os versos 4 e 5 descrevem como os jejuadores, através do jejum, acabam por agravar o sofrimento de outras pessoas que estão sob seu mando (oprimem seus empregados) e continuam a brigar e discutir. Isso, definitivamente, não é um jejum agradável ao Senhor.
Aqui é importante mencionar que Jesus valoriza algumas práticas da espiritualidade judaica, como por exemplo: a esmola; a oração; o jejum (Mateus 6); e o dízimo (Mateus 23). Porém, ele diz que jejuar, orar, dar esmola e entregar o dízimo, como um ato mecânico e ritualístico, não é o bastante. É preciso, na opinião do Mestre, acrescentar aos atos de espiritualidade a justiça, a misericórdia e a fé, que são, afinal, as coisas mais importantes da Torah, a lei de Deus.
Assim, Jesus afirma:
Têm o cuidado de dar o dízimo da hortelã, do endro e do
cominho, mas negligenciam os aspectos mais importantes
da lei: justiça, misericórdia e fé. Sim, vocês deviam fazer
essas coisas, mas sem descuidar das mais importantes.
(Mateus 23.23)
3. O jejum deve ser entendido em
seu significado estendido (vv. 6-7)
“Este é o tipo de jejum que desejo: Soltem os que foram presos injustamente, aliviem as cargas de seus empregados. Libertem os oprimidos, removam as correntes que prendem as pessoas. Repartam seu alimento com os famintos, ofereçam abrigo aos que não têm casa. Deem roupas aos que precisam, não se escondam dos que carecem de ajuda. Isaías 58:6,7
Isaías, o líder profético, leva adiante sua palavra e explica o significado mais profundo do jejum que Deus exige: Este é o tipo de jejum que desejo: Soltem os que foram o significado mais profundo do jejum que Deus exige: presos injustamente, aliviem as cargas de seus empregados.
Libertem os oprimidos, removam as correntes que prendem as pessoas. Repartam seu alimento com os famintos, ofereçam abrigo aos que não têm casa. Deem roupas aos que precisam, não se escondam dos que carecem de ajuda. (vv. 6-7)
Agora a coisa toda está clara. O jejum requerido pelo Senhor é o jejum que ao mesmo tempo mortifica a alma (vida), demonstrando, assim, dependência de Deus, mas vai muito além do âmbito pessoal e se estende ao corpo social em sofrimento e aflição. O jejum mortifica o corpo, mas não mata as pessoas, deixando-as à própria sorte. O jejum se faz com a alma e também com as mãos estendidas.
A relevância desses procedimentos para com as pessoas que estão enfrentando sofrimento não pode ser atenuada. Repare as palavras de Jesus em Mateus 25:
“Então os justos responderão: “Senhor, quando foi que o
vimos faminto e lhe demos de comer? Ou sedento e lhe
demos de beber? Ou como estrangeiro e o convidamos
para a nossa casa? Ou nu e o vestimos? Quando foi que o
vimos doente ou na prisão e o visitamos?”. E o Rei dirá: “Eu
lhes digo a verdade: quando fizeram isso ao menor destes
meus irmãos, foi a mim que o fizeram.” (Mateus 25.37-40)
Que fique claro para nós que o Galileu é um herdeiro espiritual dos profetas do Primeiro Testamento e, como tal, segue-lhe os passos em direção à vontade de Deus.
4. O jejum deve ser desejado pelos seus resultados (vv. 8 a 12)
“Então sua luz virá como o amanhecer, e suas feridas sararão num instante. Sua justiça os conduzirá adiante, e a glória do Senhor os protegerá na retaguarda. Então vocês clamarão, e o Senhor responderá. ‘Aqui estou’, ele dirá. “Removam o jugo pesado de opressão, parem de fazer acusações e espalhar boatos maldosos. Deem alimento aos famintos e ajudem os aflitos. Então sua luz brilhará na escuridão, e a escuridão ao redor se tornará clara como o meio-dia. O Senhor os guiará continuamente, lhes dará água quando tiverem sede e restaurará suas forças. Vocês serão como um jardim bem regado, como a fonte que não para de jorrar. Reconstruirão as ruínas desertas de suas cidades e serão conhecidos como reparadores de muros e restauradores de ruas e casas. Isaías 58:8-12
O profeta Isaías, porta-voz de Deus e dos que estão sofrendo por causa das condições sociais da época, indica, finalmente, cinco resultados bem práticos do jejum agradável a Deus: Eles terão luz; receberão a cura; terão direção; gozarão de proteção; e receberão respostas imediatas do Senhor.
O resultado imediato do jejum segundo o coração de Deus será, portanto, luz, cura, direção e proteção, ex- pressas nas seguintes palavras:
“Então sua luz virá como o amanhecer, e suas feridas
sararão num instante. Sua justiça os conduzirá adiante, e a
glória do Senhor os protegerá na retaguarda.” (v.8).
Não menos importante é outro resultado desse jejum divinamente orientado: resposta imediata do Senhor às orações do seu povo. “Então vocês clamarão, e o Senhor responderá. ‘Aqui estou’, ele dirá.” (v. 9). Eles se queixaram de que Deus não estava levando em consideração o jejum deles. Corrigido o rumo e a compreensão acerca do jejum, o Senhor responde prontamente.
Esses cinco resultados incríveis (luz, cura, direção,
proteção, resposta) ressoam nos ensinamentos e nas
ações de Jesus.
Luz – Ele se declara como a luz do mundo (João 8.12)
e a luz brilha em meio as trevas. Consequentemente,
diz ele, vós somos a luz do mundo (Mateus 5.14) e na
sequência, assim brilhe a vossa luz diante das pessoas
(Mateus 5.16).
Cura – A cura vinha pelas suas mãos, pois ele sarava os que necessitavam de cura. (Lucas 9.11). E enviou os seus discípulos para fazerem o mesmo.
Direção – Tomé diz a Jesus “Como podemos conhecer o caminho?” (João 14.5). Mestre afirma: Eu sou o caminho (João 14.16). Assim, ele pode dizer aos discípulos: Vocês conhecem o caminho para onde vou. (João 14.4), portanto, sigam-me.
Proteção – A oração de Jesus para Deus, o Pai, é agora
protege-os com o poder do teu nome para que eles
estejam unidos, assim como nós estamos. (João 17.11).
Essa proteção é comparável àquela na qual a galinha
protege os pintinhos sob as asas. (Lucas 13.34).
Resposta – A certeza de que os ouvidos do Senhor estão atentos à oração para responder com presteza aparece em Mateus 7.7,8: Peçam, e receberão. Procurem, e encontrarão. Batam, e a porta lhes será aberta. Pois todos que pedem, recebem. Todos que procuram, encontram. E, para todos que batem, a porta é aberta. Pois, se crerem, receberão qualquer coisa que pedirem em oração. (Mateus 21.22).
Conclusão
O texto de Isaías termina com um resumo da Torah
(instrução) profética sobre o jejum nos seguintes termos:
Removam o jugo pesado de opressão, parem de fazer
acusações e espalhar boatos maldosos. Deem alimento
aos famintos e ajudem os aflitos. Então sua luz brilhará
na escuridão, e a escuridão ao redor se tornará clara
como o meio-dia. Senhor os guiará continuamente, lhes
dará água quando tiverem sede e restaurará suas forças.
Vocês serão como um jardim bem regado, como a fonte
que não para de jorrar. Reconstruirão as ruínas desertas
de suas cidades e serão conhecidos como reparadores de
muros e restauradores de ruas e casas. (vv. 9-12)
Maravilhosa mensagem da voz profética de Deus por
intermédio do seu servo o profeta Isaías.
A correção da compreensão do jejum pelo profeta é um
verdadeiro bálsamo para os nossos corações em tempos
de pandemia. Para todos nós, que somos assolados por
dúvidas, fustigados pelas “fakes news”, distanciados do
convívio social, apartados da comunhão física do povo
de Deus, rodeados por pessoas doentes, cercados pelos
necessitados, para nós as palavras de Isaías é um alento
do Senhor.
Os cinco resultados incríveis do jejum de mãos estendidas são: luz para a sociedade; cura para as enfermidades; direção para o caminho, proteção na jornada e resposta imediata ao clamor.
Jejum de mãos estendidas significa, portanto, mortificar
o próprio corpo e estender a mão ao necessitado.
P.S.
Além da mensagem em si, outro fator importantíssimo a ser destacado no texto de Isaías 58 é a maneira com que o profeta fala. Primeiro, ele tem absoluta convicção de que está proclamando a palavra porque Deus o instou a fazê-lo. Segundo, é justamente o nome do Soberano Senhor que lhe dá força para enfrentar a situ- ação; ousadia para confrontar o povo; inteligência para compreender a situação; sabedoria para ensinar com correção; destemor para exortar; fé para acreditar na mudança; paciência para esperar a resposta do Altíssimo; e esperança para confiar no Todo Poderoso.
Frente aos desafios mais urgentes e graves, Isaías, atento ao chamado do Senhor e consciente de sua vocação de porta-voz de Deus e do povo, toma a dianteira e conclama o povo a um jejum agradável a Deus.
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