Rev. Dr. J. C. Pezini
Por que este homem está sorrindo?
Qualquer pessoa familiarizada com a fotografia do século XIX sabe que praticamente todo ser humano parece estar sério, de boca fechada e severamente séria – como se tivesse acabado de receber notícias de uma auditoria da Secretaria da Fazenda.
Os historiadores apontam que a higiene dentária era notoriamente pobre durante os anos 1800, e que as primeiras fotos exigiam longas exposições; não eram como hoje que pode capitar uma imagem em milésimo de segundo, daí a dificuldade de capturar algo como a espontaneidade em um rosto humano sorrindo.
Mas a verdadeira razão para esses retratos sombrios tem muito mais a ver com o que as pessoas pensam sobre sorrisos. Hoje nós associamos sorriso com felicidade, calor humano, descontração e bom humor.
Mas em séculos passados, os europeus concluíram que as únicas pessoas que sorriam abertamente eram pobres, embriagadas, moralmente falidas ou artistas profissionais que eram pagos para sorrir mesmo quando não havia motivo para tal. Então, as pessoas de bem a ser fotografadas não queriam cair em nenhuma dessas categorias.
Abraham Lincoln e Mark Twain foram duas pessoas das mais sofridas do século 19. No entanto, em todas as suas fotos que se conhecem, são retratos de grande solenidade. Twain, quando perguntado a razão de tal solenidade explicou: “Uma fotografia é um documento importantíssimo, e não há nada mais condenável a ir para a posteridade do que um sorriso bobo e tolo, capturado e consertado para sempre”.
O homem na foto acima é Charles H. Spurgeon, o chamado Príncipe dos Pregadores de Londres. No entanto, aparentemente, não se importou de ser fotografado sorrindo e que seu “sorriso fosse considerado bobo e tolo” mesmo que capturado para sempre. A vida de Spurgeon não foi isenta de dor e sofrimento. Aos 22 anos quase abandonou o ministério. Ele sofria, também, da doença de Gota e depressão constante.
Multidões sem precedentes vinham ouvi-lo pregar com ousadia e intrepidez. Por este motivo sofreu com a inveja de rivais religiosos e o escrutínio da imprensa sensacionalista de todos os lados.
Em 19 de outubro de 1856, mais de 12.000 pessoas se espremeram no Surrey Garden Music Hall para ouvi-lo. Ele teve que alugar esse espaço porque nenhum santuário existente naquela época poderia conter tamanha multidão. Outros 10.000 fiéis ficavam do lado de fora do prédio, esperando pegar algumas gotas de seu sermão. Um dia, de repente, alguém gritou desesperado “Fogo!”. Fumaça e chamas apareceram por todos os lados do auditório. Uma sacada desmoronou. Houve desespero e as pessoas atropelaram umas as outras enquanto corriam em direção às saídas, tentando salvar as próprias vidas. Sete adoradores morreram e 28 outros ficaram gravemente feridos naquele dia.
A imprensa local espalhou notícias afirmando que Spurgeon era de alguma forma, culpado pelo ocorrido. Este acontecimento o fez mergulhar em uma profunda depressão. Ele achava que por causa disto seu ministério seria ‘silenciado para sempre’.
Mas, este grande pregador gradualmente recobrou sua força e encontrou o caminho de volta ao púlpito. Uma sensação de alegria voltou à sua vida. Como disse um biógrafo, sua alegria baseava-se não apenas em sua capacidade de recuperação, mas também na capacidade de Deus de reabastecê-lo.
Como Spurgeon recuperou sua confiança depois deste desastre público?
Ele tinha que estar convencido de duas coisas, creio eu, que são verdadeiras em se tratando de Deus.
Primeiro: Deus está no controle de tudo! Esse é um princípio central da fé cristã. Mas, quando você reflete sobre isso em meio às lutas da vida e faz um exame longo e honesto das condições do mundo atual, onde parece não haver conserto e nem solução para os dramas da humanidade, fica difícil encontrar conforto.
Se você tem acompanhado o noticiário, neste momento, um gigantesco furacão está subindo em direção à costa da Carolina do Norte nos USA. Forças rebeldes na Síria têm combatido tropas apoiadas pelo governo nos últimos cinco anos e quase destruíram o país. Milhões de seres humanos vulneráveis estão sendo traficados enquanto você lê que Deus é bom e está no controle de tudo. Apenas nas últimas 24 horas, cerca de 30.000 crianças morreram de desnutrição e doenças evitáveis. No momento em que vivemos em nosso país, olhando para o cenário político, não vemos esperança. Ao sairmos pelas ruas vemos muitos seres humanos dormindo nas calçadas e com o estâmago roncando de fome. Sem falar no grande número de pastores em depressão, sem esperança e não poucos os que buscam por uma igreja para pastorear.
Deus está realmente no controle? Quem pode culpar um inquiridor honesto por dizer: “E daí?”. Deus parece ser culpado de negligência divina. Mas, Spurgeon apostou sua vida na verdade da bondade divina e no controle que ele tem como Deus.
Segundo: Deus não somente está no controle do cosmos e é também bom, mas ele é capaz de transformar desastres em eventos esperançosos e até horrendos males morais em acontecimentos redentores. Deus está conduzindo os eventos mundiais – assim como os eventos em sua própria vida – de tal forma que todos nós, no final, ficaremos impressionados com sua sabedoria! Disto eu não tenho dúvida!
No caso de Spurgeon, o promissor ministério que ele desfrutou às margens do rio Tâmisa, em Londres, foi transformado em um ministério internacional que ainda traz pessoas à fé 125 anos após sua morte. Em nenhum lugar prometemos livramento sobrenatural da experiência da dor e do sofrimento. Mas Deus é bom, e ele é capaz de fazer uso sobrenatural das nossas piores dores para trazer as maiores alegrias em nossas vidas e transformar nossa fraqueza em um ministério frutífero. Por este motivo ele coloca um sorriso em nosso rosto não importando a circunstância que nos cerca.
Quero, amigo, mesmo que neste momento enquanto lê este artigo e está enfrentando grandes lutas, te encorajar a continuar crendo na bondade de Deus.