José Carlos Pezini
“Maria, porém, ficou à entrada do sepulcro, chorando. Enquanto chorava, curvou-se para olhar dentro do sepulcro e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés. Eles lhe perguntaram: “Mulher, por que você está chorando? ” “Levaram embora o meu Senhor”, respondeu ela, “e não sei onde o puseram”. Nisso ela se voltou e viu Jesus ali, em pé, mas não o reconheceu. Disse ele: “Mulher, por que está chorando? Quem você está procurando? ” Pensando que fosse o jardineiro, ela disse: “Se o senhor o levou embora, diga-me onde o colocou, e eu o levarei”. Jesus lhe disse: “Maria! ” Então, voltando-se para ele, Maria exclamou em aramaico: “Rabôni! ” (que significa Mestre). Jesus disse: “Não me segure, pois ainda não voltei para o Pai. Vá, porém, a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu Deus e Deus de vocês”. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: “Eu vi o Senhor! ” E contou o que ele lhe dissera”. João 20:11-18
Tudo indica que Maria Madalena, amiga e seguidora fiel, conviveu muito próximo de Jesus e dos doze. Foi ela quem tomou a iniciativa de ir ao túmulo no domingo bem cedo numa última homenagem ao seu Senhor. E por este motivo, também, foi ela quem primeiro testemunhou o Cristo Ressuscitado. Mas, curiosamente ela não reconheceu de imediato Jesus, embora ele estivesse ali bem perto dela.
O que fez com que esse Cristo, antes tão próximo, fosse confundido com um desconhecido? Como ela não O reconheceu, estando o Senhor ali bem perto dela? Será que era pelo fato de Jesus ter se manifestado em um corpo glorificado? Maria estava diante de um mistério que destoava do que ela conhecia até então, o corpo material do Senhor.
Mas há duas metáforas importantes que, se não respondem objetivamente à questão, trazem verdades espirituais que transcendem a experiência de Maria e tocam em nossa própria relação com o Senhor.
A primeira é a de que, enquanto Maria estivesse procurando por um Jesus Morto, teria dificuldades de enxergar o Cristo Vivo, ainda que o tivesse diante dela. Isso indica que nós também não encontraremos o Senhor se o reduzirmos a leituras e imagens. Antes, devemos criar espaços para diálogos diários que torne Vivo Aquele que não é um personagem nem um conjunto de ideias, mas uma Pessoa.
A segunda pista é a de que Maria ouve as primeiras palavras do Senhor sem reconhece-Lo, mas, quando Ele a chama pelo nome e diz: “Maria!”, a névoa se dissipa e ela enxerga o Cristo ressuscitado. Impossível não evocar o momento em que o Senhor reivindicava o título de bom pastor, aquele cuja voz as ovelhas ouvem e seguem: “Ele chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para fora. Depois de conduzir para fora todas as suas ovelhas, vai adiante delas, e estas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10, 3-4).
O Senhor, como Pastor, nos encontra não apenas pelo entendimento, mas pelos sentidos. Exercitar a visão de um Jesus vivo e praticar a escuta de uma voz singular que nos chama pelo nome, eis os dois caminhos para encontrar nosso Senhor na madrugada de um dia surpreendente.
J.C. Pezini é diretor do Instituto Sara