Ó misericordioso e santo pai, dá-nos sabedoria para perceber-te, inteligência para entender-te, perseverança para buscar-te, paciência para esperar por ti, olhos para contemplar-te, um coração para meditar em ti e uma vida para proclamar-te; por meio do poder do Espírito de Jesus Cristo, no Senhor.
Bento de Núrsia
J.C. Pezini
Não há como falar de espiritualidade sem falar em oração. Não há como falar de ministério sem falar de dependência de Deus. Uma coisa está ligada a outra. Até porque o trabalho pastoral exige daqueles que resolveram obedecer o chamado divino que estejam aos pés do Senhor. Como podemos conduzir o povo que nos foi confiado sem que sabemos para onde o Senhor está conduzindo. Como podemos ensiná-los sem que humildemente nos coloquemos diante de seu altar para aprender dele. Sem falar que uma das tarefas exigidas da liderança é a intercessão diária por aqueles que Deus nos confiou.
Neste caso podemos perguntar qual é a importância de persistirmos em oração. Será que Deus tem prazer em ver seus filhos mendigando aos seus pés chorando, implorando para que ele responda nossas orações? Ou Deus é aquele pai que está atento as necessidades de seus filhos que antes mesmo que eles pedem, ele já provem os meios a fim de que eles possam ser providos. Será que Deus se alegra em nosso sofrimento ou em nossa alegria?
Analisemos a parábola em (Lucas 18:1-8) que Jesus conta a seus discípulos ensinando-os a persistir em oração sem desanimar. Confesso que levei muito tempo para entender este texto. Acho que é um texto difícil de ser compreendido. Difícil porque ao lê-lo a primeira impressão que vem a mente é de um Deus que se alegra em ver seus filhos mendigando aos seus pés para conseguir obter respostas as suas orações. Parece que Deus, por ser o todo poderoso tenta humilhar seus filhos humanos e limitados que necessita de sua benção. Bem, se esta for a primeira impressão que ficou ao lê-lo, preciso dizer que seu conceito de oração precisa ser revisto assim como o meu foi no passado.
Gostaria de deixar claro já de inicio que não é a insistência em oração que fará Deus responder sua oração. A persistência em oração não é o meio de cansarmos Deus com nossos pedidos, neste caso ele resolve responder para se ver livre da nossa chatice.
Creio que o exercício para entendermos o texto é cavar ao redor para descobrir a razão que levou Jesus a contar esta estória e descobrir qual a importância em se persistir em oração. Creio que o segredo não é a persistência em si, mas o que ela leva. Porque precisamos ser persistentes em oração. Qual o resultado desta prática.
Se verificarmos o contexto veremos que Jesus foi interrogado pelos mestres religiosos da época, aqueles que supostamente eram os encarregados a ensinar o povo sobre Deus sobre a vinda do Reino[1]. Jesus responde categoricamente que o Reino não virá de modo visível, mas ele já está entre nós. Interessante, o que Jesus está dizendo aqueles líderes religiosos é que eles não estavam conseguindo perceber a presença do Reino.
Por causa desta pergunta, Jesus virá para os seus discípulos é começa a alertá-los a fim de que eles estejam atentos aos sinais do Reino[2]. E para ilustrar este fato, Jesus usa exemplos de duas épocas diferentes. Ele leva seus discípulos a olhar pelo que aconteceu na época de Noé, durante o período em que ele construía a arca. Jesus denuncia a insensibilidade do povo. Eles estavam tão concentrados em seus próprios interesses, pensando somente em si mesmos que não perceberam a presença do Reino, o mover do todo poderoso chamando a atenção e buscando por um relacionamento. Bem, o resultado nós conhecemos. O povo somente percebeu quando começou a chover, mas a esta altura a porta da arca já estava fechada. Era tarde demais.
Mas se este exemplo nos fosse o bastante, Jesus os leva para uma outra época, e oferece outro exemplo que tem finalidade de denunciar a mesma coisa. Olha agora para Sodoma e Gomorra. O povo novamente estava voltado para seus próprios interesses. Em seus míseros projetos pessoais. Tinham se esquecido totalmente de Deus. Eles estavam tão insensíveis que nem se quer perceberam que aqueles que visitavam a cidade naquela noite eram serem celestiais. Estavam tão acostumados em brincar com seus prazeres que ignoraram totalmente. Não perceberam quando Ló e sua família saíram da cidade em companhia de seus hospedes. Estavam tão insensíveis preocupados de mais consigo mesmos que não conseguiam ter ideia da presença do Reino, do mover do todo poderoso. Somente perceberam que alguma coisa estranha estava acontecendo quando começou a chover fogo e enxofre. Mas ai era tarde de mais.
Com essas duas histórias Jesus estava chamando a atenção de seus discípulos, mostrando que até os líderes religiosos não estavam conseguindo perceber a presença do Reino. E começa a ensiná-los mostrando que para discernir o mover de Deus, perceber seus movimentos no mundo é preciso permanecer em oração. E passa a contar uma história falando da necessidade de orar sempre e não desanimar. Porque orar é uma declaração de dependência de Deus[3]. A frase chave deste texto é: “…deveriam orar sempre e não desanimar”[4]. Não podemos esquecer que a vida cristã deve ser pautada pela oração. Porque ela é o meio pelo qual ficamos em sintonia com aquele que nos criou e cuida de nós. Harry Emerson Fosdick escreveu: “Um dos conceitos mais errado acerca da oração está no dato de passarmos mais tempo falando com deus, ao passo que a melhor parte da oração é ouvi-lo”[5]. em resumo, a persistência ajuda-nos a crescer espiritualmente.
Na história de Jesus aquela viúva era tão insistente que importunava. O que levava a fazer isto era a causa importante que ela tinha para ser resolvida[6]. Ela deseja que fosse julgada. Desistir jamais. No entanto, para nossa surpresa, Jesus toma uma viúva como exemplo. Talvez levando em consideração a cultura de sua época. Por ser viúva, ela não podia entrar no Forum, e marcar uma audiência com o Juiz. Não tinha quem falasse por ela. Nese caso, fico pensando que ela tinha que ficar na porta esperando quando ele saísse, ou na porta de sua casa, na cidade, onde ela poderia encontra-lo.
Jesus faz isto para falar da importância de persistirmos em oração. Falando sobre a persistência na oração Jerry Sittser diz: “Acima de tudo, é necessário perseverar na oração , porque a oração é semelhante ao regente de um coral de virtudes[7]. Na verdade a persistência da oração não força Deus responder nosso clamor, ou fazer nossa vontade. Pelo contrário, a persistência na oração afeta-nos de maneira positiva diz João Calvino. Mas é ela que nos aproxima de Deus fazendo –nos conhecer sua vontade. É também através dela que nosso relacionamento com Deus se intensifica.
Para fortalecera importância da vida de oração, por ser ela que nos leva a ganhar discernimento e sensibilidade para perceber o que Deus está fazendo em nós e ao nosso redor, Jesus diz que o Juiz procurado pela viúva era ímpio, dirão. Dois extremos. Ele é descrito como alguém que não teme a Deus e nem se importa com as pessoas. Ele quebra o mandamento mais importante, que segundo Jesus, resume toda a Lei. “Amarás o Senhor teu Deus de todo o seu coração e ao próximo como a ti mesmo[8]. Podemos dizer que, como requisito básico da Lei, as viúvas deveria ser cuidada. E Thiago reforça este mandamento dizendo que “…a religião pura e verdadeira é aquela que cuida dos órfãos e das viúvas[9].
Mesmo este Juiz sendo descrito por Jesus como durão, ímpio, não resistiu diante da insistência daquela viúva que o importunava dia e noite. Ele atendeu seu pedido. E é neste ponto que Jesus faz o contraste com Deus, não que estivesse comparando Deus a um Juiz ímpio. Porque se até este ímpio que não teme a Deus e nem se importa com as pessoas resolveu atender aquela viúva por causa de sua insistência, acaso Deus não fará justiça aos seus escolhidos que clamam a ele dia e noite? Continuará fazendo-os esperar? Eu lhes digo: ele lhes fara justiça, e depressa”[10].
Ao orar nós nos relacionamentos com o Senhor soberano do universo. Aquele que conhece as motivações de nosso coração. Veja o que Deus diz pela boca do profeta Isaias: “Antes de clamarem eu responderei; ainda não estarão falando eu os ouvirei[11]. E continua falando através do profeta Jeremias dizendo: “Clame a mim e eu responderei e lhe direi coisas grandiosas e insondáveis que vocês não conhece[12]. E para reforçar, o apostolo João declara: “Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus” Se pedimos alguma coisa de acordo com a vontade de Deus, ele nos ouvirá. E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que temos o que dele pedimos[13].
Deus Ouvirá
A maravilhosa descoberta é; Deus responde todas as nossas orações. Sim, ele responde, mas não da maneira que gostaríamos que fossem. Porque ele nos ama e sabe qual é o melhor para nós. No entanto, muitas vezes sua resposta é nos dada de maneira tão sublime que nem se quer percebemos sua resposta. Ele não toca trombeta, ele faz porque nos ama, não espera muita coisa em troca, pois nos conhece. Na maioria das vezes sua resposta é usada para a transformação de nosso caráter e de nossa vida.
Sem dúvida alguma, por mais estranho que possa parecer, necessitamos da oração não respondida da maneira que gostaríamos que fosse. Ela é uma dádiva de Deus para nós, porque nos protege de nós mesmos. Se soubéssemos que Deus respondesse nossa oração da forma que gostaríamos que fossem, oraríamos para mudar o mundo em beneficio próprio, e ele se transformaria em inferno na terra. Se Deus respondesse todas as nossas orações da maneira que gostaríamos que fossem, eu te garanto que ele nos transformaria em monstros. Se recebêssemos resposta à oração com muita facilidade, perderíamos o interesse, não só pela oração, mas também por Deus.
No entanto, ele responde nossas orações. Ele é honrado quando persistimos em oração. As vezes ele responde rápido, outras vezes ele demora, de acordo com nossa visão. O segredo é persistir, porque a persistência demonstra nossa dependência dele. A oração nunca é rejeitada, desde que não cessemos de orar. O principal fracasso da oração é desistir de orar[14]. A persistência na oração constrói a confiança que Deus deseja para nós. Devemos ser vigorosos na oração sabendo que ele está nos ouvindo e não desistir até que a resposta chegue.
Jesus encontrou uma grande oportunidade para mostrar aos seus discípulos que a vida cristã é o resultado da comunhão com Deus. E que o relacionamento se dá através da oração. No entanto, não de forma religiosa. Ao fazer isto, ele confronta os religiosos da época que tinha por costume de orar três vezes por dia. Mas ao fazer devemos ter a compreensão de que Deus veio habitar em nós, e entãodevemos ter a consciência que nossa vida deve ser em constante relacionamento com ele. Fazer de todos os acontecimentos dos nossos dias um palco de devoção. E que somente assim podemos adquirir a sabedoria para discernir seu movimento ao nosso redor e tomar parte com ele naquilo que ele está fazendo.
O apostolo Paulo tomou emprestado este ensinamento é convocou a igreja a “Orar sem cessar[15]. Este é o grande desafio em nossos dias. Fazer da oração nossa alimentação básica cotidiana.George Mueller a ser perguntado sobre a oração disse: “Eu vivo em espirito de oração. Oro enquanto ando, quando me deito e quando eu me levanto. E as respostas estão sempre a caminho. Milhares e dezenas de milhares de vezes as minhas orações foram respondidas. Uma vez que eu esteja convencido de que uma coisa é certa e para a glória de Deus, continuo a orar por isto até que a resposta chegue.
Se tivéssemos que responder sobre este
mesmo tema hoje, poderíamos dizer que a persistência em oração nos faz
sensíveis ao seu mover. Que é através dela que discernimento sua vontade. Que
ela é a responsável para nos aproximar de Deus Ela fortalece nosso
relacionamento com ele, que constrói a confiança que ele deseja em nós.
[1] Lucas 17:20-21
[2] Lucas 17:22-37
[3] Yancey, Philip: Oração pg.42
[4] Lc.18:1
[5] Sittser, Jerry: Quando Deus não responde a sua oração, pg 126
[6] Lc.18:3
[7] Jerry Sittser pg.118
[8] Mc. 12:28-34
[9] Tg.1:27
[10] Lc. 18:7,8
[11] Is.65:24
[12] Jr. 33:3
[13] I Jo.5:14,15
[14] Jerry Sittser, quando Deus não responde a sua oração. Pg.118
[15] I Ts. 5:17