Rev. Mário Sérgio de Góis
“Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar.
De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados”. Atos 2:1,2
Neste dia 31 de maio a Igreja cristã celebra o Pentecostes! Importante festa para os judeus foi justamente durante sua celebração que o Espírito Santo desceu sobre os discípulos de Jesus reunidos numa casa em Jerusalém. Deste modo, de um lado, cumpriu-se a profecia bíblica do Antigo Testamento (Joel 2) que predizia a descida do Espírito Santo e, por outro, a promessa de Jesus (João 14 e 16) de que enviaria o Consolador.
A bíblia apresenta diferentes figuras relacionadas ao Espírito Santo. Em Atos 2:2 temos uma delas que é o vento – “como de um vento muito forte”.
Penso ser apropriado refletir neste domingo de Pentecostes sobre o vento e suas influências. Vivemos em plena pandemia do novo coronavírus, o qual soprou sobre a face da terra como um forte vento e ainda continua a soprar.
O vento forte quando sopra tira do lugar quase todas as coisas. A paisagem se altera completamente. Coloca o mundo de ponta cabeça. Perde-se o controle de tudo e põe por terra estruturas mandando para o ar um montão de coisas. É justamente isso que a pandemia do novo coronavírus tem feito. Colocou à prova todos os sistemas que aparentavam segurança. Percebemos a incapacidade da ciência e o sistema de saúde de darem conta da demanda; a economia das pessoas, famílias e nações ruindo ao ver suas reservas financeiras sendo consumidas rapidamente; a incapacidade de certos líderes políticos de articular e organizar uma frente unida contra o vírus e suas consequências; a enorme dificuldade de grande parte da população de seguir orientações e resguardarem a si mesmas e aos outros. O mundo interior das pessoas está se desabando fazendo surgir em meios aos escombros emocionais os conhecidos ‘transtornos e síndromes’ com suas garras. O que fica é uma equação que não fecha: muitas perguntas numa mão e poucas respostas na outra!
O vento forte quando sopra trás revelações. Ele revela que aquilo que aparentava fortaleza não era tanto, e assim deita por terra casas simples e mansões requintadas. Em meio aos destroços e escombros muita coisa é revelada da intimidade e privacidade das pessoas. Do mesmo modo o vento forte desta pandemia tem revelado o pior e o melhor do ser humano. O aumento da violência, os interesses mesquinhos e egoístas, a excessiva preocupação com o vil metal, os oportunistas agindo à margem da lei e da ética para obter lucros, o fosso da desigualdade econômica e social, o vazio das almas sem esperança por não cultivar uma espiritualidade e fé saudáveis, etc. Por outro lado, vemos um despertamento solidário revelando a bondade de pessoas em pequenos ou grandes atos de solidariedade, os profissionais da saúde numa dedicação sacerdotal, profissionais de áreas essenciais se expondo dia a dia, pesquisadores cientistas concentrados em buscar uma vacina contra o vírus e, não menos impactante é a descoberta que as pessoas fizeram de que conseguem viver com pouco e que a simplicidade satisfaz.
Quando o Espírito Santo soprou sobre os discípulos em Pentecostes, tudo mudou. É impressionante a transformação nas vidas dos apóstolos, antes temerosos num isolamento social (João 20:19-23) e agora com coragem anunciando as grandezas de Deus (Atos 2:14-36). O livro de Atos dos Apóstolos é simplesmente a narrativa, na prática, dessa transformação.
E assim, como quando após um tornado que passou os sobreviventes vasculham os entulhos de suas casas à procura de algo que resgate suas identidades e memórias as quais se tornam verdadeiros tesouros existenciais para elas, a humanidade hoje está em cima dos escombros buscando sentido para a vida. É tempo de reorganização e, nesta hora, escolhas são necessárias serem feitas para a reconstrução de um modo de viver e de interagir com o outro.
Mas como discípulos e discípulas de Jesus Cristo, reflitamos neste dia de Pentecostes no fato de que assim como o novo coronavírus é este forte vento soprando, também, devemos crer que o Espírito de Deus está soprando sobre o Seu povo hoje, transformando-o e encorajando-o para o ‘novo normal’ na pós pandemia (Ezequiel 37:9; Salmo 104:30).
E assim oraremos suplicando que o vento que vem dos quatro cantos sopre sobre nós para sermos uma nova igreja para uma nova realidade.
E que, como os discípulos, o Espírito nos encontre reunidos num só lugar!